O ano era 2000, e nossa rede social da época era o Orkut.
Fazíamos parte de grupos, mas nenhum aqui no Japão.
Na verdade, hoje penso: por que nunca fizemos parte de um grupo aqui?
Talvez não houvesse. Nunca vou saber.
Nosso foco não era se misturar. Era somente eles. E eles.
Quando soubemos do show do BSB, fomos a loucura ! Combinamos então de ir em todos os shows deles. Nagoya, Osaka e Tokyo.
Naquele ano até o meu aniversário teve o tema Black & blue dos Backstreetboys. Nossa paixão era real ! Eu e Li fomos planejando tudo até que chegou o grande dia de comprar os ingressos. Naquela época, lembro que eles vendiam os ingressos em um único dia. Garantimos o de Nagoya facinho. Mas quando chegou o de Osaka, precisávamos de um código para pagar aqui em Nagoya.
Mas a cada ligação para o número indicado, mais longe ficava a nossa realidade do show dos BSB em Osaka. Ficamos ligando o dia todo. No final da tarde já sabíamos que não íamos no show deles em Osaka. Agora restava o de Tokyo. Lembro até hoje da imagem; eu e li implorando para meu pai levar a gente. Eu ainda não tinha carta, então ele era nossa única esperança.
Meu pai sabia da nossa loucura pelo BSB. Ouvíamos as músicas deles 24horas. Até ele começou a gostar com o tempo. Quando imploramos pra ele, lembro de ele pegar o telefone e ligar para meu tio dizendo; “ vou ter que levar as meninas pra Tokyo, quer me acompanhar ? “ De Aichi até Tokyo de carro da mais ou menos 7 horas. Meu tio não pensou duas vezes.
Meu pai tinha uma Delica bem velha. Ele limpou, abasteceu, enquanto minha mãe, bem brasileira, fazia sanduíches para levar na viagem.
No fim, na van estavam: meu pai dirigindo, meu tio de copiloto, minha tia com minha mãe atrás, eu e a Li no banco de trás.
O que aquele carro tinha de velho, ele tinha de confortável.
Viajamos tranquilas, cantando músicas dos nossos queridos a viagem toda. O sentimento era de que nada poderia nos abalar.
Acho que até meus pais e meus tios estavam curtindo tudo aquilo.
Mas, claro, o universo ainda queria testar nosso amor pelos nossos queridos ídolos — e a gente nem fazia ideia.
Entre uma parada e outra, nossos corações pulavam quase saindo pela boca.
O friozinho na barriga aumentava. Era como se estivéssemos prestes a realizar um sonho !
Mas ainda nem estávamos perto disso...
Já era noite quando finalmente estacionamos. Foram quase 7 horas de viagem !
O desafio agora era achar a loja. E, claro, nada mais inteligente do que achar a loja um dia antes.
Aprendemos a não deixar as coisas pra última hora com a nossa última derrota de não conseguir os ingressos de Osaka.
Quando identificamos a loja, já estava tudo fechado — e isso não era um problema.
Mas já percebemos que havia uma movimentação por ali.
De primeira, nem percebemos a encrenca.
Fomos comprar algo para comer e beber, enquanto passeávamos um pouco pelos arredores.
Mas não por muito tempo.
Quando passamos pela loja para voltar ao carro estacionado, vimos algumas pessoas em fila na loja.
Algo dentro de mim me alertou que sair dali não era uma opção.
Procuramos caixas pelas ruas e pegamos algumas para então fazer a maior doideira das nossas vidas até ali:
Decidimos que, se já tinha gente ali, era sinal de que, se saíssemos dali, perderíamos os ingressos.
E foi assim que dormimos nas ruas de Tóquio, em meio a papelões.
Meu pai, preocupado, nos acompanhou.
A noite estava fresquinha.
E só de pensar que iríamos ao show dos BSB em alguns meses deixava nossos corações quentinhos.
Cada hora que passávamos ali, percebíamos a fila crescer aos poucos.
Ficava pensando se era suficiente o lugar onde estávamos.
Mas estava extremamente grata por meus pais e meus tios entrarem nessa comigo.
Estava orgulhosa de tê-los do meu lado.
Quando amanheceu, as horas pareciam não passar.
A loja nunca abria.
E a fila só crescia.
Sabíamos que havia o risco de pessoas reservarem pelo telefone, então estar logo no começo da fila não nos deixava em vantagem.
Mas estar ali já era um grande feito.
Quando a loja finalmente abriu, já estávamos com o dinheiro em mãos. Pegamos senha e, quando finalmente pegamos os ingressos...
A atitude de acolher nossos pequenos grandes sonhos — por parte do meu pai e do meu tio — foi crucial para que essa lembrança ficasse no nosso coração para o resto da vida.
Até hoje, sinto meu coração quentinho de amor e carinho por aquele dia.
Então dedico esse post ao meu pai e ao meu tio Moreira.
Obrigada por tudo !
Sei que nem todo mundo tem a sorte de ter pessoas tão queridas que acolhem sonhos.
Amo vocês !
Continua no próximo post: